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Entrevista: Luiz Ruffato

Em setembro de 2009, tive a oportunidade de comparecer à noite de autógrafos do escritor Luiz Ruffato. Naquele dia ocorreu o lançamento de seu livro "Estive em Lisboa e lembrei de você" (crítica aqui). Muito simpático, conversou comigo e algum tempo depois aceitou responder algumas perguntas que encaminhei via email.



1) Luiz, obrigada por participar dessa entrevista e parabéns pelo lançamento de seu novo livro. Você esteve em Portugal e escreveu um maravilhoso livro, falando de amor, esperança e mudanças. Li no site do projeto "Amores Expressos" a seguinte frase: "E não apenas as ligações são fragmentadas: nós também o somos, com nossas identidades em metamorfose". O que essa viagem mudou em você?

Quando fui convidado a participar do projeto Amores Expressos, escolhi Lisboa como cidade-laboratório. Primeiro, porque já conhecia bastante bem a cidade e poderia então me dedicar a escolher com calma os ambientes onde se passaria a história. Segundo, porque eu já tinha tido contato anterior com os imigrantes brasileiros em Portugal, e o paralelo entre a imigração para o exterior e a imigração interna brasileira me interessava como ponto de partida para a ficção. Então, no meu caso, náo houve propriamente mudança, embora seja verdade que em toda viagem, se você estiver afeito a isso, ocorre um salto qualitativo, pois aprende-se algo.

2) Você nasceu em Cataguases, Minas Gerais. Em seu livro "Eles eram muitos cavalos" você retrata São Paulo de uma forma muito completa e intensa. Em que a cidade o afetou ou modificou a ponto de escrever tão intimamente sobre ela?

Eu devo tudo o que tenho, financeiramente, psicológica e profissionalmente, a São Paulo. A cidade é uma das poucas no Brasil em que não se pergunta "filho de quem você é" para aprovar ou negar um emprego... Então, quando em 2000 me foi proposto escrever um romance, pensei imediatamente em pagar um tributo à cidade que me acolheu e me fez ser o que sou hoje.

3) Essa pergunta é uma curiosidade de leitor. Sempre queremos saber o que nossos autores preferidos lêem. Luiz, quais seus escritores preferidos? Qual foi o primeiro livro de impacto na sua vida?

Eu sempre me deixei contaminar por todos os autores que li. Mas, claro, alguns estão presentes no meu universo afetivo e intelectual de maneira diversa de outros. Eu citaria, então, não autores que me influenciaram, mas aqueles que me impressionaram e impressionam ainda hoje: Balzac, Machado de Assis, Tchekov, Faulkner, Pirandello.

4) Truman Capote escreveu o livro "A Sangue Frio" em moldes jornalísticos. Você já foi jornalista. Qual a relação do Jornalismo com suas obras?

Diretamente, o que o escritor deve ao jornalista, e a ele sempre graças, é a disciplina. Nada melhor do que o exercício cotidiano do jornalismo para deixar claro ao escritor que escrever é exercício, é labuta. Além disso, há, claro, um certo treino do olhar, uma certa humildade em saber que o texto que você elaborou e reelaborou torna-se privada de passarinho, no dia seguinte, no caso do jornal, ou nada, se ninguém abre o livro, no caso da literatura... Agora, não vejo nada mais distante da literatura do que o jornalismo. Embora ambos trabalhem com a linguagem, cada um dos ofícios têm com ela uma relação completamente única. O texto jornalístico quer-se mediano, inteligível, objetivo, claro e informativo. O texto literário deseja-se culto, inteligente, subjetivo, deformativo... Onde termina a notícia de jornal começa a prosa de ficção...

5) Para finalizar, o que você perguntaria para você mesmo?
Você é uma pessoa feliz? E eu responderia: sim, muito, apesar de todos os percalços...

Postagem original aqui.

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